Angus USA – Cruzamento de raças: considerações e alternativas de um mercado em desenvolvimento

Visão geral sobre manejo genético e cruzamentos na indústria de carne bovina

A vantagem associada com os benefícios do cruzamento é um fenômeno bem documentado. Pesquisas demonstraram claramente e repetidamente os benefícios associados com a implementação de sistemas de cruzamentos híbridos em vários sistemas de produção. Simplificando, os animais híbridos têm melhor desempenho que seus contemporâneos puros. Além disso, esses princípios são ressaltados por resultados similares em outras espécies de gado.

O peso ao desmame serve como uma característica de suma importância na maioria das atividades de cria: o peso ao desmame é igual ao peso pago e, dessa forma, representa a principal fonte de renda para a maioria dos produtores. Favoravelmente, o peso ao desmame também representa a característica na qual os maiores benefícios do cruzamento podem ser obtidos. Literatura de pesquisa indica benefícios substanciais dos efeitos combinados da heterose individual e materna na hora do desmame (crescimento e sobrevivência junto com produção de leite e fertilidade, respectivamente).

Os benefícios médios aumentam e variam entre os trabalhos respectivos, dependendo das condições ambientais e do tipo de manejo. Em geral, no entanto, os produtores que desmamam os bezerros híbridos mamando em vacas hibridas tipicamente obtêm melhora de 10% a 20% no peso ao desmame. Além disso, a obtenção dessas vantagens do cruzamento não requer muito em termos de insumos adicionais.

Simultaneamente, contudo, está cada vez mais aparente que os produtores de carne bovina não estão explorando inteiramente esses benefícios. Apesar das vantagens bem documentadas derivadas do cruzamento, os criadores parecem não enfatizar a busca da heterose dentro de suas atividades. Ou seja, o rebanho bovino americano tem um curso reverso da abordagem ampla e bem fundamentada de introduzir a heterose, especialmente nos esforços relacionados ao estabelecimento de raças de bovinos de corte Continentais dentro dos Estados Unidos. Se o cruzamento representa um cenário cheio de benefícios e sem custos descrito acima, por que os produtores estão aparentemente evitando sua implementação?



Esta questão merece uma avaliação mais profunda e parece haver uma explicação razoável. Fatores significativos frequentemente negligenciados pela sabedoria tradicional e evidências científicas devem estar envolvidos. A proposta deste trabalho é explorar algumas possíveis explicações para estas estratégias genéticas mais amplas dentro do rebanho bovino dos Estados Unidos, não da perspectiva de um geneticista, mas da ciência animal básica e do manejo prático e econômico do rebanho.

Uma pesquisa do Sistema de Monitoramento de Saúde Animal Nacional do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de 2008 indicou que a descrição mais comum (45%) usada pelos produtores comerciais para classificar seus rebanhos bovinos era de “híbrido”, apesar de compreender não mais do que duas raças. Entretanto, as pessoas que responderam às pesquisas feitas pela BEEF Magazine (2010) revelaram que quase metade dos produtores classificam a composição genética de seus rebanhos como sendo de alta porcentagem ou puros britânicos. Isso foi reforçado por várias pesquisas que indicaram que o setor estava em transição de um status de múltiplas raças para um predominantemente composto de uma única raça. A raça Angus agora representa aproximadamente 70% ou mais da genética do sistema comercial de produção de carne bovina do país, deixando o resto do rebanho dividido entre várias outras raças.

Muitos dentro da indústria de carne bovina expressam frustração a esse fato, alguns até se referindo a ele como “preocupante”. Acadêmicos e observadores da indústria citaram um sentimento comum: “É um erro para os produtores voltar a programas de raça pura e desistir dos quilos adicionais que podem ser produzidos de um rebanho através de programas bons e bem concebidos de cruzamento”. Mais importante ainda, isso levanta questões sobre por que esse desenvolvimento ocorreu ao longo do tempo.

É importante notar que muitas suposições sobre o cruzamento de gado de corte vem de um modelo único que serviria para todos. Entretanto, a indústria de carne bovina, especialmente o setor de cria, continua um negócio altamente fragmentado, envolvendo 750.000 entidades independentes. Qualquer tentativa de fazer inferências envolvendo toda a indústria se mostra um tanto quanto tênue e pode, dessa forma, levar a suposições errôneas.

Claramente, as prioridades operacionais são altamente variadas em todo o segmento e isso provavelmente é verdadeiro para uma série de considerações de manejo. Por exemplo, 45% dos produtores indicam que a raça é uma consideração sem importância quando compra um touro ou um sêmen para criar novilhas de reposição (NAHMS, 2008). Como tal, uma grande parte da indústria exemplifica como:

1) Implementação casual de cruzamento dentro de rebanhos individuais ou,
2) Desconsideração geral da importância de um planejamento sistemático ou estratégico quando se fala de manejo genético.

De qualquer maneira, o resultado é o mesmo: apesar das percepções amplamente aceitas sobre manejo genético e importância do cruzamento, um grande número de produtores não possui um plano real de reprodução – eles continuam indiferentes ou não conhecem os benefícios associados com o vigor híbrido (pelo menos, implementado de uma maneira sistemática).

Por padrão, isso ainda deixa metade dos operadores que poderiam ser categorizados como relativamente conhecedores e estratégicos sobre sistemas planejados de reprodução (seja de híbridos ou de puros). Essa demarcação, entretanto, ressalta a ampla gama de filosofias relacionadas ao manejo genético. E aí, descobrimos a dificuldade inerente associada com fazer suposições amplas sobre modelos tradicionais de negócios e tomada de decisões relacionadas no setor de cria.

Nas próximas semanas, serão publicados 11 pontos referentes a esse tema, sendo um por semana. Os pontos são:
1) Transição do negócio;
2) Influência genética e qualidade da carne bovina;
3) Programas de valor agregado;
4) Consolidação;
5) Convergência de negócios e propriedade retida;
6) Negócios intangíveis;
7) Gestão de prioridades de tempo e mão de obra;
8) Características funcionais e mitigação de problemas;
9) Considerações sobre facilidade no parto;
10) Considerações sobre manutenção do rebanho de vacas;
11) Considerações sobre implementação.


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