Doença pouco conhecida atinge criação de ovinos em Vassouras, no RJ. Ainda não existe tratamento e vacina não tem autorização para importação.
Em Vassouras, no Rio de Janeiro, uma doença ainda pouco conhecida atacou quase todas as ovelhas do rebanho. O veterinário Mário Balaro escreveu um e-mail para o Globo Rural contando a descoberta do surto dessa doença rara.
Em 2010, Pedro Porto deixou a produção de leite e de hortaliças para se dedicar a ovinocultura. Investiu cerca de R$ 120 mil na construção de apriscos, compra de matrizes e insumos. O negócio, que começou com 32 cabeças, estava indo tão bem que em 2012 já estava com um plantel de 150 ovinos, produzindo cerca de 40 quilos de leite.
Só que em junho do ano passado, a criação entrou em alerta máximo por causa dessa doença que tem um nome esquisito e pouco conhecida no Brasil. A denominação língua azul foi dada depois dos primeiros registros na África do Sul, no começo do século 20, em que os animais contaminados pelo vírus apresentavam uma coloração azulada na língua e na mucosa da boca.
A língua azul é uma doença não contagiosa, que ataca principalmente os animais ruminantes, ovinos, bovinos e caprinos. É transmitida por um vírus através do mosquito-pólvora, do gênero culicóides. Ele se contamina ao sugar o sangue de um animal já doente e depois transmite o vírus ao picar um animal sadio.
Os primeiros casos foram notados em alguns animais vindos do Sul, logo após saírem da quarentena. Com o tempo, a doença se espalhou também para as ovelhas compradas em outros locais e nas que nasceram na própria cabanha.
Segundo o Ministério da Agricultura, atualmente no país só existe este foco registrado da doença e nos últimos dez anos praticamente não tiveram outros casos notificados.
A falta de informações sobre a língua azul dificulta ainda mais o combate. O veterinário Mário Balaro, que mandou o e-mail alertando sobre o surto de língua azul, fazia pesquisas sobre reprodução com as ovelhas do criador quando se deparou com os animais apresentando alguns sintomas da doença.
"O primeiro sinal que o produtor pode ver é a febre desse animal. Uma febre alta, de 41ºC, 42ºC. O animal fica triste, num canto, diminui o apetite, então ele fica apático e a partir disso começam a aparecer lesões na região da face. A face fica avermelhada ao redor de olhos, orelha, lábios e aparecem também lesões. O lábio fica demaciado e começam a aparecer lesões no casco", explica o médico veterinário.
O vírus da língua azul se multiplica nos vasos sanguíneos do animal, baixando drasticamente a imunidade e abrindo caminho para muitas doenças, como pneumonia, diarreia e inflamação da musculatura.
Imagens feitas pelo veterinário durante o período mais crítico mostram os animais atingidos pela língua azul com dificuldades para andar.
Desde o surgimento dos primeiros sintomas, em junho de 2012, 28 ovelhas morreram. Pedro não pode vender os animais e nem os produtos fabricados com o leite. Os que resistiram à doença ainda guardam os efeitos da língua azul.
O primeiro relato da doença no Brasil foi em 1978, com a importação de vacas leiteiras contaminadas. Ainda não existe um tratamento contra a língua azul, a não ser os antibióticos para combater as doenças provocadas pela baixa da resistência do animal infectado.
O que o criador pode fazer é tentar evitar a proliferação do mosquito-pólvora, transmissor da doença, mas isso depende de um controle coletivo.
Já existe uma vacina que se mostrou bastante eficaz na redução dos casos da doença na Europa e na América do Norte, mas ela ainda não é produzida no Brasil e nem a importação é autorizada. O que faz aumentar ainda mais o drama de criadores de ovinos.
FONTE: GLOBO RURAL
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