AM tem 1,36 milhão cabeças de gado e apenas sete abatedouros regulares


Informações de entidades também apontam riscos de contaminação. Manaus corre risco de consumir carnes abatidas irregularmente.
Dos 62 municípios do Amazonas em apenas seis cidades existem um total de sete locais regularizados para abate de gado. Nos demais 56 municípios amazonenses, o abate dos rebanhos para consumo é feito de forma irregular. Os dados são do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-AM), que destacou os riscos de contaminação dos rebanhos e do meio ambiente, além da população consumidora de carne provenientes dos abatedouros clandestinos. De acordo com a Agência de Defesa Agropecuária e Florestal (Adaf), o Amazonas possui um rebanho com 1,36 milhões de cabeças de gado.

Segundo o vice-presidente do CRMV-AM, Gilmar Rocha, do grupo de estabelecimentos regularizados, dois estão localizados em Manaus. Já as cidades de Itacoatiara, Manacapuru, Parintins, Iranduba e Boca do Acre (único sifado sob Serviço de Inspeção Federal-SIF), contam respectivamente com um abatedouro legalizado. "Apuí e Humaitá possuem abatedouros municipais, mas não estão regularizados", salientou Gilmar Rocha.

De acordo com a entidade, embora seja considerado maior mercado consumidor do Amazonas e possua locais adequados para o abate, Manaus pode está recebendo carnes abatidas de forma inadequada das regiões onde não há estabelecimento devidamente credenciado ao serviço.


Segundo o Conselho Regional de Medicina Veterinária, o abate improvisado de animais e falta de condições sanitárias ocorrem em quase do Amazonas (Foto: Alana Araújo/Sempab)

Para o especialista, a situação dos abatedouros clandestinos no Amazonas é uma questão gravíssima de saúde pública. "É uma vergonha essa situação, porque infelizmente a saúde pública no nosso estado e nos demais, não é levada a sério como deve ser. O risco da contaminação por brucelose, turbeculose e outras doenças, existe tanto para sociedade como para os rebanhos. O perigo existe em todo o estado", disse o vice-presidente do CRMV-AM.

Recentemente, circulou entre os produtores do estado a existência de um suposto foco de contaminação de brucelose no rebanho bovino no município de Envira, a 1.207 km distante de Manaus. O assunto será debatido no próximo dia 11 de abril, em Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Amazonas.

"Não recebemos nenhuma denúncia sobre o assunto no Conselho. Porém, temos conhecimento pela imprensa de que foram abatidos animais e colocados a carne à venda no mercado de Envira e Eirunepé. Mas não posso afirmar se realmente aconteceu ou não. O órgão competente deve verificar a suspeita para evitar uma epidemia no estado. No caso, a antiga Comissão Executiva Permanente de defesa Sanitária Animal e Vegetal (Codesav), a atual Agência de Defesa Agropecuária e Florestal", ressalvou Rocha.

O diretor da Adaf, Sérgio Muniz, disse que a desinformação em relação à doença gerou a especulação. O titular da agência reguladora explicou que foram realizados exames de soro aglutinação em 2.600 mil amostras em uma população aleatória do rebanho bovino sem apresentar sintomas. O técnico do órgão vai para Envira acompanhar o caso e esclarecer os produtores. "Esse exame é um exame de triagem, mesmo dando positivo não necessariamente essa carcaça está condenada. Pode ter ocorrido uma reação no exame", esclareceu o diretor.

Danos
Além dos riscos para população consumidora de carne, o abate clandestino também representa um problema ao meio ambiente. Isso porque, de acordo com o Conselho Regional de Medicina Veterinária, na maioria dos casos o trabalho de corte do animal resulta na contaminação de igarapés e rios pelo descarte irregular de material orgânico.
"A maioria abate o animal em cima de um flutuante. Acontece que há uma contaminação dos igarapés e dos rios porque eles jogam o sangue e resto de carcaça nas águas", revelou Rocha.

Em muitos locais, o gado é abatido em flutuantes e restos são jogados nos rios (Foto: Daniela Assayag/TV Amazonas)

Fiscalização
A fiscalização dos abatedouros é de responsabilidade das prefeituras municipais, do governo do Estado e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Na avaliação do representante do Conselho Regional de Medicina Veterinária, a interdição dos abatedouros clandestinos não é a medida eficaz para solucionar o problema.

"Em Tefé, existia dois flutuantes onde os animais eram abatidos e que foram fechados pelo Ministério Público, mas não adianta fechar se não há um local adequado, a prefeitura não tenha o Serviço de Inspeção Municipal (SIM). As prefeituras precisam fazer seu trabalho de fiscalização também", enfatizou Gilmar Rocha.

Já Sérgio Muniz explicou que para realizar as fiscalizações e dar apoio para as prefeituras criarem o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), o governo do estado transformou a Codesav na Agência de Defesa Agropecuária e Florestal, que ainda está sendo estruturada. O investimento na fiscalização para atuar nas fontes abastecedoras até o momento envolveu a compra de lanchas e unidade móvel.

"Nesses abatedouros precisamos ter uma inspeção permanente com presença de médico veterinário, acompanhando desde a chegada do animal no curral para verificar se ele está doente. Fazer a conferência das Guias de Trânsito dos Animais (GTAs), controlando o trânsito dos animais, o acompanhamento in loco na hora do abate para verificar se a carne está apta ao consumo pela população", destacou o diretor da Adaf.

Entretanto, a regularização dos abatedouros e aumento do controle dos rebanhos dependem ainda de investimentos das prefeituras municipais. Conforme o titular da Adaf, a Secretaria de Produção Rural (Sepror), com recursos da Suframa, está construindo dois abatedouros, sendo um em Tabatinga e outro em Nova Olinda, que está em obras. Já em Tabatinga houve atraso por problemas com a construtora responsável.

"A maioria dos prefeitos está preocupada e procura a Adaf para resolver a situação. Mas para fazer o abatedouro municipal a prefeitura precisa investir cerca de R$ 800 mil e a maior parte dos municípios não possui esse recurso", frisou Sérgio Muniz.

Medidas
O vice-presidente do CRMV-AM sugere a implantação de abatedouros descentralizados para solucionar o problema, realizando o abate nas condições sanitárias recomendadas e com os selos de inspeções municipal, estadual e federal. Porém, a criação de abatedouros municipais em algumas cidades esbarra também na inviabilidade. Rocha citou como exemplo, o caso de São Gabriel da Cachoeira, que não tem 2 mil cabeças de gado, tornando inviável criar um abatedouro na cidade.

"Nossa sugestão não é que seja criado um abatedouro regularizado em cada cidade, o que se precisa é de fiscalização através de barreiras sanitárias para maior controle da situação do abate clandestino. Os abatedouros descentralizados funcionariam como polos, atendendo várias cidades ao mesmo tempo. Por exemplo, na região de Autazes, Manaquiriri, Careiro da Várzea e Careiro Castanho, se houver um acordo entre os governantes dessas cidades pode ser implantado um abatedouro que atenda esse grupo de municípios", sugeriu Gilmar Rocha.
Fonte: G1 Amazonas


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