Confira a seguir um trecho da reportagem de capa que pode ser lida na íntegra na edição da revista Globo Rural de novembro/2011
O boi do futuro para ele tem nome - é nelore. Antonio José Junqueira Vilela, o AJJ, seleciona um rebanho de elite em Euclides da Cunha (SP) e multiplica essa genética na vacada comercial da Fazenda Inhandu, em Novo Mundo (MT), onde produz tourinhos e faz cria, recria e engorda a pasto. Ele consegue abater os animais com média de três anos, alguns lotes até aos dois anos e meio. "O nelore é o gado que melhor se adaptou ao clima tropical. Prova disso é que mais de 80% do plantel de bovinos do país é da raça trazida da Índia. Como imaginar o boi europeu no calor tórrido de Mato Grosso e comendo somente capim?", desafia.
Para AJJ, a evolução do zebuíno nos últimos anos foi acelerada e decisiva para os ganhos na pecuária. "O boi era abatido com cinco, seis anos de idade, em média. Hoje, no Brasil Central, essa média, com a ajuda do nelore, caiu para três anos, o que se traduz em eficiência e giro financeiro rápido, além de menos comida, remédio, água e trabalho," afirma. Segundo ele, o caminho é investir cada vez mais na raça, cujo sangue corre nas veias de mais de 90% do rebanho em estados de pecuária extensiva como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. "Anote aí: em uma década, devemos baixar para dois anos e meio o tempo de abate do nelore no país. E, quando atingirmos esse estágio, o Brasil estará pronto para abastecer o mundo de carne", prevê AJJ. Ele considera válido o cruzamento industrial do zebu com o europeu, mas o foco deve ser o aprimoramento constante do nelore. "É o gado do Brasil", resume.
AJJ agrega valor ao ligar as duas pontas que garantem o êxito no corte: a alta genética e a produção comercial. São 500 vacas puros-sangues em Euclides da Cunha, entre elas 60 doadoras. E um rebanho de 60 mil cabeças nos campos de braquiária de Mato Grosso, sendo 2 mil vacas registradas. "Grandes, médios e pequenos pecuaristas tiram lição com AJJ, que tem olho clínico para a criação", afirma Carlos Viacava, ex-presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil. AJJ contesta os que atribuem pouco sabor à carne do nelore. "O que não é explicado é que a carne é envolta por uma capa de gordura. Ela pode ser incorporada à carne, deixando-a mais saborosa. E, se alguém deseja comer um produto magro e saudável, é só retirar a capa de gordura", ensina.
Ele adquiriu a fazenda paulista em 1985, depois de uma experiência bem-sucedida na Amazônia. A propriedade se chama Rio Alegre e margeia por quilômetros o Rio Paranapanema. Quase todos os tourinhos que lá nascem são enviados para Mato Grosso. Apenas 1% deles permanece para apurar o plantel. De Euclides da Cunha saem também os campeões de pistas pesadas, como a da ExpoZebu de Uberaba (MG) e as vacas que AJJ negocia a peso de ouro em leilões. "Empregamos a mais alta tecnologia, como a fertilização in vitro (FIV), coletando 450 embriões anualmente, que são destinados a Mato Grosso", diz. Segundo AJJ, de 65 anos, a chegada do nelore ao país, seu casamento com as pastagens rústicas do Brasil Central e as tecnologias modernas revolucionaram a pecuária e inseriram a atividade definitivamente no agronegócio. No norte de Mato Grosso, a Fazenda Inhandu possui área de 103 mil hectares. São mais de 90 quilômetros de um extremo ao outro - uma hora de carro. Vilela usa apenas 30% do espaço; os 70% restantes são reservas de mata nativa. A boiada come braquiária. As pastagens dos oito retiros foram semeadas por avião, por conta da vasta extensão da fazenda. "A cria, recria e engorda é feita no capim e sob temperaturas que castigam o gado. É por isso que o Brasil é exclusivo. Eu sou contrário aos confinamentos, pois são caros demais", diz AJJ.
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